Artigo | Série Sabrina, a avó dos livros para mulheres

A história de Sabrina nº 1, a primeira revista escrita SÓ para mulheres impressas no Brasil

Kindle, pdf, fanfic, hot, CEO, download, Amazon; – esses são termos que conhecemos tão bem em plenos anos de 2021. Porém os romances cheios de clichês dos “antigos” anos de 1970 tinham um texto um “pouco” diferente que foi evoluindo até hoje, até chegar nos quentíssimos romances hot.
O que pouco mudou foi a paixão das mulheres por livros românticos, previsíveis e com finais felizes. Bem, pelo menos a princípio.
Decidi escrever esse artigo pois é recorrente a lembrança da primeira (tá não foi a primeira, mas a mais lembrada), revistinha feminina de banca de jornal, a Sabrina nº 1.


Para quem não sabe Sabrina foi a primeira de uma série de revistinhas estilo Nora Roberts numeradas lançada em 1977 (ou 1979 conforme algumas fontes), o título é “Passaporte para o Amor”, de Anne Mather.
Depois de Sabrina a editora lançou uma outra série de revistinha, a não menos famosas Júlia (1978) e Bianca (1979).
Todas seguiam uma receita de bolo, até no número de páginas. Capas com um casal lindo em uma cena romântica e escritoras internacionais.
Agora por curiosidade, para quem curtia (ou curte) esses romances. Percebeu que as escritoras são desconhecidas? Diz a lenda que esses textos eram usados como laboratório para “pretensas” escritoras no futuro.
Peraí. Isso aí tem um outro nome hoje em dia, fanfic.
Eu ainda acredito que digamos que essas revistinhas são as fanfics da sua mãe talvez. Bem, pelo menos eram as minhas quando eu era adolescente.
Cheguei a colecionar mais de 300 delas e tenho carinho por algumas que guardo até hoje. E é bem divertido notar como a história se repete mesmo com algumas evoluções tecnológicas como os e-books de hoje em dia ou até bookbusters como 50 tons de Cinza e Crepúsculo que são nada mais que uma versão chique em capa dura desses romances de banca.
Em 1935 a Companhia Editora Nacional já publicava coleções de livros para as ‘moças’ daquela época, as chamadas coleções Azul, Rosa e Verde. Desses selos, o mais popular foi a Coleção Verde, também chamado de Biblioteca das Moças que contava com 175 títulos finalizando nos anos de 1960.
Vamos ao enredo de cada uma das séries. Sim, esses também seguiam um padrão. Antes de continuarem pensem bem nisso, nos anos de 1970 não existiam hots como lemos hoje. Então … Vamos lá.


Casal de protagonistas sempre bonitos
Autoras desconhecidos
Simplicidade e finais felizes
Exclusivo para as mulheres
Cenas de amor exageradas
Não ultrapassava um número determinado de páginas

Bianca – Para as mulheres que amavam histórias mais contidas, recatadas de uma forma mais clássica. Sem sussurros, gemidos e coisas do tipo. Só o clássico beijinho. Indicado para meninas.
Julia – Um passo além. Para mulheres mais fortes e liberais (para a época ok), histórias repletas de conflitos familiares e amorosos, recheados de lágrimas de sangue e final feliz.
A distribuição oficial dessas revistinhas seguiu em banca até 2011 quando a editora passou a vende-las em e-book. (Explicação no final da matéria ). Segundo pesquisa no site da Folha () por mês eram lançados entre 30 a 37 títulos e novas moças fizeram parte do catálogo como “Sabrina Cegonha”, “Sabrina Noivas”. Segundo publicação no site. “A história tem que ser de amor: o moço e a moça com sinceridade acabam se encontrando. Que não seja escandaloso, que a leitura conforte. Quando os dois são fiéis, lutam, lutam e acabam se encontrando. A gente aprende muita coisa para a vida.”
Segundo a editora, ele é predominantemente da classe B e C.
Nem por isso deixa de continuar a valer. “Como Agarrar um Marido”, o nº 1.000, conta na primeira página que Wendy Spencer e seu vizinho Paul vão terminar juntos. O final feliz, como se vê, longe de ser um problema, é uma exigência.


“Como Agarrar um Marido”, o nº 1.000, conta na primeira página que Wendy Spencer e seu vizinho Paul vão terminar juntos. O final feliz, como se vê, longe de ser um problema, é uma exigência.
“Os mil números de ‘Sabrina’ tiveram final feliz”, disse Janice Florido editora-executiva da Nova Cultural, também responsável pelas edições de “Os Pensadores”.
Segundo a matéria da Folha, nas primeiras “Sabrinas”, não havia romances entre descasados e solteiras. Os homens eram, no máximo, viúvos.
As autoras (sempre mulheres) bebem, portanto, na fonte da realidade. Mas são obrigadas, por uma exigência mercadológica, a resolver os conflitos, reduzindo a obra a um produto ideológico.
O fato de elas serem sempre estrangeiras (as obras são todas da Harlequin Enterprises, do Canadá) e de língua inglesa, além de exigência contratual, é reveladora.
Nos 25 anos da Nova Cultural esses livros garantiam 35% das vendas com preços na época que variavam entre R$ 4,90 e R$ 12,00 (ou até menos se você comprasse em um Sebo ou banquinha com livros usados).
Pode parecer incrível mas em 1998 alcançou um patamar de quatro milhões de livros vendidos. Em uma entrevista publicada no site Os empreiteiros Janice deixa claro que, em nenhum momento, a editora pensa que a série tem a mais remota pretensão de atender à chamada “grande literatura”, mas garante que são “edições bem cuidadas, com traduções de qualidade”. Segundo ela, “os livros têm a função básica de entreter mas tem representado para muitas leitoras a porta de entrada para a literatura mais sofisticada”.
Para Janice não é raro começar-se lendo Barbara Cartland, a adorável lady inglesa, avó de Lady Di e que foi um dos ícones destes romances açucarados que produziu em profusão em sua longa vida, e acabar gostando de Machado de Assis. “As séries de romances históricos, por exemplo, passadas em séculos anteriores, trazem cuidadosas reconstituições de época, da arquitetura à política. Os livros também falam com detalhes de quem conhece de países distantes o que agrada muito as eleitoras e não deixa de ser uma fonte de novos conhecimentos para elas”, garante a publisher.

Espaço publicitário


Segundo a matéria sem data, o público do segmento Romances é 99% feminino e a faixa etária vai dos 19 aos 40 anos, mas varia por região segundo pesquisa qualitativa e quantitativa realizada pela editora em todo o País. No Nordeste, os livros atingem um grupo mais jovem, no sul e sudeste mulheres entre 30 e 45 anos, no centro-oeste mulheres de 20 a 30 anos. Os livros são consumidos da classe C à classe A, com predomínio da classe B e atinge todos os níveis culturais.

Pesquisei se ainda está a venda esses romances da editora, o que encontrei no google foi um site antigo com os posts quebrados, uma pena.

Partes do texto são de fontes externas, mantive o original respeitando os valores da época da publicação.

Ainda é possível encontrar alguns exemplares no mercado livro e no estante virtual

Fontes:
https://www.livroseopiniao.com.br/2013/02/sabrina-julia-e-bianca-os-famosos.html
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq31019808.htm
http://www.osempreiteiros.com.br/revista/onoticias.asp?IdNoticia=738

Sabrina nº 1
https://app.box.com/s/nzwzvksughlemxmkek43265csqd8bmmx


Resenha
http://viciadasromances.blogspot.com/2015/03/passaporte-para-o-amor-anne-mather.html


Edição histórica
https://www.estantevirtual.com.br/rodrigo1312/anne-mather-sabrina-edicao-comemorativa-passaporte-para-o-amor-827611743?show_suggestion=0

Sabrina 1000
https://pt.scribd.com/document/332375077/1000-Carolyn-Zane-Como-Agarrar-Um-Marido-Sabrina-1000

Surya é jornalista de cinema e escritora da Saga Estrada para Yellow Rose – Liana. Um livro de realismo mágico com personagens adultos. Indicado para leitores curtem o gênero de ficção urbana.

— Don Quixote

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