Guarda roupa da rainha vitória

Livros modernos de época | Ser vintage não basta, é necessário muita pesquisa

Ao contrário do que muitos acreditam, não é tarefa fácil escrever uma história ambientada nos anos de 1800, ou até mesmo antes disso, pelo ponto de vista de um autor contemporâneo.

Comportamento e valores que hoje não são mais tolerados ou atitudes modernas demais para a época em que a história é ambientada também deve ser levado em conta.

Existe uma linha tênue entre o comportamento que seria natural no contexto histórico e o jeito que gostaríamos que os personagens se comportasse nos dias de hoje. E isso já é motivo de discussões interessantes nas redes sociais.

Um dos questionamentos a favor disso é a liberdade criativa do autor. Afinal, o principal objetivo do livro é a diversão. Porém, como em tudo, sempre, mas sempre existe uma possibilidade de alguém abandonar uma leitura por estar em desacordo aos seus princípios e pensamentos. Então…

O ponto de partida desse artigo foi um post que me chamou atenção. “Para ler/escrever um bom romance de época, não basta vestir os protagonistas com lindas roupas e jogá-los no século 18 se comportando como se estivessem no século 21.”

Partirei de um exemplo bem simples.

Na história de Os Bridgertons, Julian Quinn retrata uma cena em que Daphne tem uma noite de amor com Simon e ocorre estupro. Essa sequência tornou-se um dos tópicos mais comentados na época da estreia da série na Netflix. Aí vêm o questionamento. A personagem realmente faria isso de acordo com os pensamentos e comportamentos da época? A autora soube levar a narrativa de fato a convencer o leitor que aquilo seria um comportamento natural dos protagonistas? Aí é você que responde.

Falando um pouco de cinema. Um dos meus filmes favoritos é Highlander. Resumidamente conta a história de um imortal Connor MacLeod, que é um guerreiro escocês do século XVI.  Ele tem que lutar literalmente para manter a cabeça no lugar, até o confronto final pelo grande prêmio.

O legal é perceber que durante todo o desenrolar do filme e mesmo nas várias épocas em que Connor viveu, ele sempre manteve íntegro alguns hábitos que aprendeu no século XVI. Principalmente a cortesia e alguns gestos de um lord escocês. Uma das cenas mais interessantes é quando MacLeod mostra sua casa a Brenda. A sala estava cheia de objetos e artefatos guardados por séculos, claro sinal que ele sentia muita falta da sua história pregressa.

Agora vamos virar a página para o outro lado, os problemas.

Um erro (até comum), é o figurino. Colocar uma mulher no século 18 usando calças compridas. Segundo o site historiahoje “a primeira tentativa no uso de calças compridas foi a saia bifurcada, mas davam maior liberdade de movimentos, a chamada bloomer, cujo nome foi uma homenagem à feminista Amelia Bloomer. Obviamente, a resistência ao uso dessa peça era grande. Mulheres eram xingadas e agredidas nas ruas por estarem em “trajes masculinos”. Para se ter uma ideia, em 1800, entrava em vigor em Paris uma lei determinando que as mulheres que usassem calças em público podiam ser presas pela polícia.”

O primeiro contato da moda feminina com a calça foi quando o designer Paul Poiret deu fim ao uso dos espartilhos depois disso, o primeiro modelo criado foi em 1909 com um design mais leve e largo de calças para mulheres, que na verdade era uma calça pantalona.

Segundo fontes, a estilista Coco Chanel foi uma das primeiras a usar a calça. Com um modelo largo, solto no corpo e modelagem confortável, Chanel deu início para a popularização das calças femininas.

Em uma breve pesquisa descobri que a senhorinha Dna. Dona Elvira Kenski de 104 anos foi ser a primeira mulher a usar calças compridas em Curitiba – na década de 1940. A reportagem na íntegra você lê aqui.

Um outro erro, segundo a historiadora Pauline Kisner, é o uso dos espartilhos. Ela fez um vídeo superinteressante explicando como usá-lo corretamente.

Sim, se você quiser, pode se vestir como no século 18. Inclusive esse é um dos tópicos mais interessante do canal dela. Vestimenta de época.

O livro não tem cheiro

Uma das coisas mais curiosas que “descobri” foi que em 1898 chegou-se a conclusão que a cidade estava quase que literalmente se afogando em estrume. Isso mesmo. No site Placebos Alternativos explica-se.

“No final de 1800 o problema da poluição causada por cavalos tinha alcançado níveis sem precedentes. O crescimento da população de cavalos estava a superar até o rápido aumento no número de habitantes urbanos. Várias cidades americanas estavam a afogar-se em estrume de cavalo, bem como outros subprodutos desagradáveis ​​desse predominante modo de transporte da época: urina, moscas, congestionamento, carcaças, e acidentes de tráfego. A crueldade generalizada contra os cavalos era também uma forma de degradação ambiental presente. “

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